domingo, 9 de dezembro de 2012

Muito bom este texto do Pr. José  Mendonza Aguilera.

ESPIRITUALIDADE E EMOÇÕES
No inicio da vida crista é comum escutarmos a frase “minha vida espiritual” que muitas vezes leva consigo uma conotação bastante ascética. De forma inconsciente, muitos se sentem desafiados a tornarem-se inimigos daquilo que se considerava uma “vida mundana”
Nesta categoria mundana estão catalogados elementos como a cultura, a moral, a vida social, o lazer etc. Desse modo o ser humano sofre uma cisão e sua vida cotidiana é fragmentada o que conduz a

viver numa corrente de desintegralização em uma continua frustração confrontado com sua humanidade.
Para suportar e viver esta fragmentação a igreja durante séculos tem se dedicado a orientar o cristão a dedicar-se a prática ascética das conhecidas e diversas disciplinas espirituais, as quais se tornam novas leis que passam a definir os comportamentos e as práticas religiosas que, para alguns, além de serem marcas de espiritualidade são definidoras para o desenvolvimento de um elevado grau de espiritualidade e permitem o correto relacionamento com Deus.
Jesus, a encarnação da realidade humana é o perfeito modelo da espiritualidade. Os evangelhos relatam o Deus-Homem nas ruas da Palestina junto com seu povo, vivendo a perfeição do relacionamento espiritualidade-humanidade. Olhando para Jesus descobrimos que, embora tenha praticado o jejum e a oração no inicio do seu ministério, não são estas as exigências que Ele coloca para um bom desenvolvimento do crescimento cristão. Ele os aprova, mas não são estas exigências legais que Ele aponta para que produzam este crescimento. É a espiritualidade de Jesus que se observou no seu dia a dia e no seu no relacionamento com a pobreza e com a riqueza, com a fome e com a abastança, com o povo e com as autoridades politicas e religiosas.
Sem discutir a validade das disciplinas espirituais tem na vida do cristão e como a história da igreja tenha mostrado isso através de homens e mulheres na prática das mesmas, não devemos esquecer o fator humano, da vida ou da encarnação da vida no dia a dia, como Jesus o fez.

Na caminhada ministerial de Jesus vemos a sua espiritualidade-humanidade desde o momento da sua gestação e nascimento. É no processo normal da criação que “o Verbo se fez carne” ( Joao:1:14), pois foi uma mulher que teve dores no parto e que “deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura (Lucas 2:7). É inevitável não pensar numa criança que nasce sendo um bebe coberto de sangue envolvido numa placenta e nos fluidos corporais envolvidos no parto. Não se pode deixar de não observar a sua preadolescência na procissão a Jerusalém, quando perdeu-se dos pais por quase 4 dias. Alguns anos mais tarde, vemos Jesus divertindo-se, sim, divertindo-se numa festa de casamento junto aos seus amigos e ainda providenciando o vinho para que a festa não acabasse.
Na espiritualidade de Jesus não haviam cisões, nem dicotomias. Suas emoções estavam presentes de forma natural em sua espiritualidade como em sua humanidade, expondo-as como nos momentos de raiva diante das injustiças que os seus irmãos sofriam. Observamos isso na purificação do templo ou quando desafiou Herodes: “Ide, e dizei àquela raposa” (Lc13:32). São impactantes os momentos da despedida de Jesus com os seus discípulos, nos quais ele reconhece e ensina sobre a vida que tiveram juntos: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações”(Lucas 22:28)
O Senhor da História teve seu momento especial e de particular importância na caminha de espiritualidade. A sua espiritualidade-humanidade manifesta-se em sua vida em um momento de profunda angústia e depressão diante da vontade do Pai. Os evangelistas descrevem este momento como agônico, depressivo, com cheiro de morte, pois o texto informa que “posto em agonia, orava mais intensamente. Seu suor tornou-se grandes gotas de sangue que corriam até ao chão (Lucas 22:44) fruto dos sentimentos da sua alma, como são expressos pelo evangelista Marcos: “A minha alma está profundamente triste até a morte”. (Marcos 14:34).
Um dos seus seguidores escreveria mais tarde: “ De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” ( Filipenses 2:5). É o sentimento da encarnação. “O verbo se fez carne, Ele habitou entre nós”. Outro seguidor escrevia “O vimos, o apalpamos, o contemplamos o ouvimos” era a espiritualidade-humanidade entre os homens.
Ouso dizer que a espiritualidade crista, segundo Jesus, é viver a humanidade de forma expressiva. É sentir e viver o corpo; é sentir e viver a emoção. A espiritualidade crista é ser gente, é viver a vida, sentir que sou o invólucro da graça de Deus e como tal tenho que encarnar a realidade da vida onde estou – o mundo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


A NECESSIDADE DO MUNDO

Um antigo mito grego nos conta a história do rei Sísifo. O rei foi sentenciado pelos deuses a rolar uma pedra até ao topo da montanha eternamente. Cada vez que ele estava próximo ao topo a pedra rolava montanha abaixo e era necessário recomeçar o seu trabalho do ponto zero, ou seja, do sopé até o topo novamente. Não importa o quanto ele trabalhava, no projeto dos deuses ele estava condenado ao fracasso eternamente.
Albert Camus, o existencialista francês, reivindicou que tudo da vida é simplesmente isso: fútil e sim propósito. Trabalhamos e pensamos que temos objetivos, mas estamos condenados a viver a de futilidades. Aproximadamente 125 anos antes Camus o americano Henry David Thoreau disse que a maioria dos homens vive vida de desesperação, sofrendo no silêncio o sue próprio desespero. Até mesmo William Shakespeare, no século dezesseis e dezessete, reivindicou que “a vida era um conto narrado por um idiota cheio de ruído e fúria, não significando nada”.
As perguntas que se faz são: Há uma resposta cristã para essa visão pessimista?  O cristão pode oferecer uma resposta positiva para aqueles que buscam um propósito na vida? A resposta deve ser um sonoro “SIM!”. Mas infelizmente muitos cristãos vivem a vida como se esta fosse governada pela sorte e não pelo o Soberano Deus, Criador de todas as coisas e Senhor absoluto.
Essa visão distorcida nos prova que a maioria dos cristãos do século XXI carece de um encontro real com o Senhor. Sem esse encontro a vida é vista na visão de Shakespeare, e infelizmente a igreja se torna apática e indolente no cumprimento de sua missão, qual seja “proclamar o evangelho em toda a terra”.
A igreja deve avaliar a sua posição e perceber o quanto ela avançou nos últimos 2000 anos. De um punhado de crentes temerosos e de um salão saiu para alcançar o mundo com a mensagem transformadora do evangelho, mas é verdade que ainda temos muito o que fazer. Nossa missão vai além do que simplesmente apregoar a Palavra. Agostinho expressava: “Se não podes ensinar com teu exemplo, por favor, não ensine”, o que isto tem a nos ensinar ora não somos repetidores (papagaios) do que ouvimos, precisamos viver o que pregamos, pois só assim seremos o sal da terra e a luz do mundo, e então mostraremos para a geração presente que em Deus a vida tem um sentido real, não é um conto de fada ou um jogo de cartas marcadas.
Esta geração de salvo tem a missão de oferecer ao mundo uma visão de mundo que responda aos questionamentos da presente geração. Precisamos despertar para necessidade que o mundo tem de nós. Se fizermos a nossa tarefa, a próxima geração de crentes poderá transformar o mundo, através de uma visão coerente, de um esforço produtivo e de uma paixão em levar o evangelho pleno a toda a criatura, poderá mudar o mundo, levando multidões a reconhecerem Cristo como Senhor de suas vidas.
Vamos aceitar o desafio, o momento é agora, não importa se somos muitos, lembramos que há dois mil anos o mundo estava afundado em densas trevas e Jesus chamou poucos homens que comprometidos com Cristo levaram o evangelho a todo o mundo civilizado da época. E na idade média, quando novamente o mundo estava submergido em trevas Deus levantou um pequeno número de reformadores que de forma ousada, lutando contra tudo e contra todos fizeram a mensagem do evangelho conhecida em toda a Europa, e dali para o mundo.
Pessimismo e futilidade têm uma vez mais contida o mundo no que parece ser uma luta para morte. Onde estão os homens e mulheres que aceitarão o desafio dessa geração? Pode ser que para isso Deus tenha te chamado. Levante mãos-a-obra, a nossa luta é contra a esperança e a futilidade, entre o propósito e a falta de sentido.
Deus conta contigo.
Pr. Lurdeo Moura
26.11.2012

quinta-feira, 15 de novembro de 2012


O CULTO CRISTÃO

Há mais de 15 anos li um livro intitulado: “CULTOS E PANACEIAS”, onde o autor (Pr. Mauro Clementino) apresenta 10 características da música que honra a Deus. E a partir daquele tempo tenho procurado estudar sobre o culto cristão, e infelizmente, tenho observado que a cada dia que passa mais e mais a igreja se distância dos princípios da Palavra de Deus, bem como das tradições que nos foram legadas pelos pais da igreja, no que diz respeito ao culto cristão.

Quero continuar este texto questionando será que todo o culto que temos participado ou assistido nos últimos dias poderão ser chamados de “culto cristão”?  Se este questionamento fosse feito de forma pessoal, não tenho dúvida que a resposta seria mais ou menos essa: “lógico, se fomos à igreja, se cantamos, se oramos e lemos a Bíblia, logo o culto foi oferecido ao Senhor”.

A resposta parece lógica e coerente, mas, no entanto, não é, pois o culto cristão é muito mais do que ritualismo. O culto cristão é o ato mais importante, mais relevante e mais glorioso na vida do homem. Nas palavras de A.D. Müller, “o culto cristão é a forma mais vívida, mais palpável, mais central e simples da presença de Cristo”. Essa presença só é perceptível através da fé, pois assim como sem fé é impossível agradar a Deus, sem fé também é impossível perceber a presença de Cristo no culto. Não importa o quanto cantamos, quanto pulamos ou se a música é de boa qualidade, só sentiremos a presença de Cristo no culto, se nos aproximarmos com fé e com coração limpo.

O culto tem uma função muito significativa, pois é através dele que a Igreja tem a oportunidade de demonstrar a sua verdadeira natureza. É no culto que a vida da igreja se expressa e torna visível ao mundo. É no culto que a Igreja dá provas de si mesmo; é nele que reside o seu centro. Vale dizer que é a ele que somos levados quando verdadeiramente buscamos a Igreja. É através do culto que a Igreja se encontra com o mundo, a fim de exercer a sua missão, ou seja, é no culto que a Igreja clama e intercede pelo mundo. É no culto que a Igreja é lembrada que há milhões de perdidos que precisam ouvir a mensagem da Salvação. É no culto que a Igreja é levada a meditar no sacrifício vicário de Cristo, e este, principalmente por ocasião da ceia, ou eucaristia, como alguns preferem.

É através do culto, ou no culto, se assim achar melhor, que a igreja tem a oportunidade de expressar o verdadeiro louvor a Deus, bem como expressar o verdadeiro sacrifício ao Senhor (Rm 12.2). Ora, se o culto nos oferece essa oportunidade, então se faz necessário preservar a distinção entre o sagrado e o profano. Essa distinção, em nossos dias, tem sido desprezada. E quem assim age usa dos mais frágeis argumentos, tais como: “fiz-me de tudo para ganhar alguns” (I Co 9.22), ou ainda “Deus derrubou a parede da separação” (Ef 2.14). Isso é no mínimo baratear a Palavra de Deus, fazendo a sua própria hermenêutica, com único objetivo de dar vazão ao egoísmo ou ao estrelismo que é tão próprio do ser humano.

É no momento do culto que a diferença entre o sagrado e o profano deve ser mais acentuada, mas infelizmente isto não acontece na igreja moderna, porque já é possível encontrar culto de máscaras em algumas comunidades, em outras se celebram dois cultos um para o público jovem e outro para o público adulto, isso é no mínimo uma discrepância sem precedente, ora o culto é o momento do fiel com o seu Salvador e não o momento para agradar um público e desagradar outro.

Quando lemos os salmos que, na verdade, são hinos de exaltação a Deus, podemos perceber que o salmista não faz qualquer diferença entre o público que se reúne para exaltar ao Senhor, todos, de forma uníssona são chamados a entrarem pelas portas do templo com hino de louvor e nos átrios com cânticos de vitória.

No Salmo 148 toda a criação é convidada a louvor a Deus. Nos versos 11 e 12 o convite é direcionado aos homens: “Reis da terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da terra; rapazes e donzelas, velhos e crianças. Que louvem o nome do Senhor, pois o seu nome é exaltado; a sua glória está sobre a terra”. Mais uma vez toda a raça humana é convidada a louvar a Deus, sem se importar para faixa etária, além do que, o salmista nos apresenta os motivos do louvor: 1) o seu nome é exaltado; 2) a sua glória está sobre a terra.

Quero concluir com um conselho de Inácio de Antioquia: “Procurai, pois, reunir-vos com maior frequência para Eucaristia e o louvor de Deus. Porque, vos reunirdes amiúde para isso, defaz-se o poder de satanás e, por causa da harmonia da vossa fé, se dissolve por completa a ameaça de perdição que ele faz pesar sobre vós”.

Pr. Lurdeo Moura
15.11.2012




quarta-feira, 7 de novembro de 2012


A VERDADE ESTÁ SENDO SUBSTITUÍDA
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”
João 8.32

Até os dias do Iluminismo, a verdade era considerada absoluta, objetiva e correspondente direta da realidade. Esta assertiva começa a mudar a partir das especulações de Immanuel Kant. A dúvida epistemológica de Kant era tão poderosa que deixou marcas indeléveis na visão ocidental da verdade.
Sem a possibilidade de uma epistemologia[1] firme para discernir a verdade, o pensamento ocidental está sendo arrastado num mar de confusão. O perigo dessa inconsistência é que a civilização pós-moderna, nossa civilização, vive sem um ponto de referência pelo qual seja capaz de determinar o que é verdadeiro e o que é falso, o que é certo e o que é errado, o que é importante e o que é trivial. Certo e errado são determinados pela preferência de cada indivíduo.
Em razão dessa balbúrdia epistemológica, a nossa sociedade convive com a pluralidade religiosa, o que em primeira mão diríamos ser benéfica, pois a igreja de Cristo na terra é chamada para ser o sal da terra e a luz do mundo (Mateus 5.13-14) e os seus líderes para serem despenseiros dos mistérios de Deus e considerados honestos diante dos homens (I Coríntios 4.1-2), mas infelizmente isso não tem acontecido. A igreja, se consciente ou não, tem descuidado dos princípios da Palavra de Deus, em busca de um crescimento, que nem sempre é saudável. Crescimento saudável é aquele que é fundamentado na Palavra de Deus e não no modismo que estamos vivendo. 
Esse caos epistemológico tem invadido a igreja. As verdades e os fundamentos bíblicos têm sido deixados para trás, e em razão disso muitos pastores inescrupulosos traem, mentem e pregam qualquer coisa, sem se importar com os fiéis, pois estão em busca de seus interesses, e na defesa destes exploram os menos favorecidos, e chutam a ética, se é que sabem o que é “ética”, pois eles mesmos fazem suas éticas. Vivemos numa época em que a ética se tornou obsoleta.
Onde não existe ética, não há valores humanos nem base para demonstrar amor. Segundo Moberly: “Um princípio fundamental do Antigo Testamento é que ética é a imitação de Deus” (Levítico 19.2). Não é de nos surpreender que Deus em sua santidade exige de seus seguidores que estes vivam tal qual Ele é: Santo, Ético e Verdadeiro.
Em II Timóteo 2.3, o apóstolo Paulo nos adverte sobre o caráter dos homens desta época, e devo salientar que não se refere a homens ímpios, mas àqueles que se dizem ministros de Deus e pregadores da Palavra da Verdade, mas infelizmente a verdade é o que não se prega, pois na ganancia de ganhar tornam-se verdadeiros charlatões, que exploram a fé dos fiéis, como promessas que nunca se cumprem e campanhas que nunca terminam; como alguém disse à igreja: “esta é uma campanha eterna, nunca acaba”. O único objetivo dessa campanha é manter os incautos fiéis aos cultos. Quem assim age, age a revelia da Palavra de Deus, pois se formos analisar o caráter desse pregador encontraríamos uma série de atitudes que conflitam com a verdade do evangelho.
É urgente que voltamos ao nosso princípio, procurando ler a Palavra de Deus, como a única verdade, e que não pode, em hipótese alguma, ser manipulada a nosso bel-prazer. Não podemos fazer hermenêutica que atendam nossos propósitos escusos e antiéticos, que nos favoreça em nossos sonhos eclesiásticos.
Voltar ao princípio é voltar conscientemente ao encontro de Deus, pedindo perdão de nossos erros, pois brevemente haveremos de prestar contas diante dele, e não esqueçamos da alerta exarada em Apocalipse 22.18-19, pois nenhum de nós queremos trabalhar em vão. A verdadeira recompensa de Deus.
Pr. Lurdeo Moura






[1] Ciência do conhecimento